sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

nanopartículas na comida representam um risco à saúde?

Um novo estudo revela que nanopartículas estão sendo usadas em tudo,
de cerveja a bebidas para bebês, apesar da falta de informações sobre
sua segurança
por David Biello

Plástico permeado com nanopartículas ajuda a tornar as garrafas de
cerveja da Miller Brewing Co. menos propensas a quebrar, ao mesmo
tempo que amplia o período de durabilidade da cerveja na fase de
armazenamento. A mistura de bebida nutricional Toddler Health, da
Simply H, inclui 300-nanômetros (300 bilionésimos de metro) de
partículas de ferro. E uma ampla variedade de itens de cozinha e
limpeza agora emprega partículas de prata de tamanho nano para matar
micróbios.

No entanto, o grupo ambiental Friends of Earth (FoE) [em português
Amigos da Terra] sediado em Washington, relata que nenhum dos mais de
100 produtos de comida ou relacionados a comida em que eles
identificaram a presença de nanopartículas - partículas minúsculas
entre 100 e um nanômetros - tem um aviso no rótulo ou passou por algum
tipo de teste de segurança realizado por agências governamentais.

"Produtos criados com o uso de nanotecnologia entraram na cadeia
alimentar", diz o autor do relatório, Ian Illuminato, lobista de saúde
e ambiente do FoE. "Estudos preliminares indicam que há um sério
risco. [...] Temos de saber o que é seguro antes de colocarmos em
nossa comida."

O relatório se apóia em vários estudos feitos nos últimos anos segundo
os quais algumas nanopartículas podem causar danos. Um estudo de 2005
publicado na Environmental Science & Technology mostrou que
nanopartículas de óxido de zinco eram tóxicas para células do pulmão
humanas em testes de laboratório mesmo em baixas concentrações. Outros
estudos mostraram que partículas de prata minúsculas (15 nanômetros)
mataram células do fígado e do cérebro de ratos. "Elas são mais
reativas quimicamente e mais bioativas", por causa do seu tamanho, que
lhes permite penetrar com facilidade em órgãos e células, afirma
Illuminato. "Os produtos devem ao menos ser rotulados para que os
consumidores possam escolher se querem fazer parte desse experimento".
O FoE diz que está provavelmente subestimando o número de alimentos e
produtos alimentícios que contêm as minúsculas partículas, porque eles
dependem de relatórios das próprias empresas e de uma lista de 600
produtos de nanotecnologia compilados pelo Woodrow Wilson
International Center for Scholars (instituição de pesquisa criada pelo
Congresso em 1968 para promover as associações entre estudiosos e
políticos) como parte de seu projeto para estudar as implicações da
nanotecnologia.

O grupo ambiental declara que o governo dos Estados Unidos não foi
capaz de proteger consumidores dos perigos potenciais das
nanopartículas e exige uma proibição de seu uso em alimentos e
produtos relacionados, até que elas tenham sido testadas a fundo para
eliminar a possibilidade de riscos à saúde.

Hoje em dia a Food and Drug Administration (FDA, a agência de controle
de alimentos e remédios dos Estados Unidos) não exige especificamente
provas de que nanopartículas sejam seguras, mas determina que os
fabricantes forneçam testes capazes de comprovar que os produtos
alimentícios que as utilizam -seja cerveja ou comida para bebês - não
são nocivos. "A indústria terá de arcar com o ônus de demonstrar a
segurança do material sob as condições de uso para as quais ele é
concebido", diz Christopher Kelly, porta-voz da FDA. "Versões de
nanopartículas de materiais [aprovados pela FDA] podem muito bem ser
novos materiais" que irão exigir novas investigações, "e isso será
considerado caso por caso".

Até o momento, há poucos estudos dos meios científicos, da indústria
ou do governo publicados sobre os impactos ambientais e sobre a saúde
das nanopartículas. Para complicar ainda mais a questão há o fato de
que as nanopartículas estão presentes no suprimento de comida há anos.
"Nanopartículas estão nos produtos alimentícios há décadas, nós apenas
nunca percebemos que elas estavam lá", diz o físico Andrew Maynard,
conselheiro científico chefe do projeto Wilson Center. "Precisamos
entender melhor como o nano pode ser benigno em alimentos, mas também
onde se encontram os perigos".
Por exemplo, ainda não está claro se as nanopartículas usadas no
empacotamento de alimentos podem migrar ou se infiltrar na comida ou
bebida. E se desconhece completamente que impacto uma ampla variedade
dessas nanopartículas pode ter na saúde humana.

Várias agências governamentais, incluindo a FDA e Environmental
Protection Agency (EPA, Agência de Proteção Ambiental), mostraram
interesse em nanotecnologia. No ano passado, o governo dos Estados
Unidos gastou mais de US$ 1,4 bilhão em pesquisas sobre nanotecnologia
como parte da Iniciativa Nacional de Nanotecnologia, um esforço
conjunto de 25 agências federais que investigam ganhos e os perigos
potenciais da tecnologia emergente. Dessa quantia, aproximadamente US$
40 milhões foram destinados à pesquisa de saúde e segurança (uma
quantia que deverá quase dobrar, chegando a US$ 76 milhões no
orçamento proposto do ano fiscal de 2009).

A FDA não pode fornecer dados sobre quanto gasta para avaliar a
segurança de nanopartículas.

A EPA recebeu US$ 8,6 milhões desses US$ 40 milhões, dos quais cerca
de US$ 3 milhões foram direto para laboratórios para a pesquisa dos
riscos potenciais à saúde e ao meio ambiente, de acordo com Jim
Willis, diretor da Divisão de Controle de Substâncias Químicas da EPA.
A EPA e suas contrapartes no Canadá, Europa, Ásia e Austrália também
começaram em fevereiro um estudo de três anos sobre os efeitos de 14
nanomateriais - incluindo prata, ferro e outras nanopartículas
elementares bem como nanotubos e nanobolas de carbono. "Quando
tivermos os resultados da primeira fase, iremos considerar a idéia de
passar para testes mais aprofundados em alguns desses nanomateriais ou
talvez em algum outro", diz Willis, acrescentando que qualquer nova
substância química para aprovação que contenha 10% ou mais de
elementos de tamanho nano recebe atenção especial dos avaliadores da
EPA. "Nós vimos cerca de 30 nos últimos três anos", diz ele.

Em 2006, a EPA começou a regulamentar o uso de nanoprata como um
pesticida dentro da Lei Federal de Inseticidas, Fungicidas e
Rodenticidas. Como resultado, empresas que utilizam essas partículas
de nanoprata (como um antimicrobiano numa vasta gama de mercadorias
que vão de computadores a panelas) precisam registrá-las como
pesticidas. Em março deste ano, a agência multou a fabricante de
equipamentos Iogerar, de Irvine, Califórnia, em US$ 200.000 por ter
deixado de registrar a nanoprata antimicrobiana em alguns de seus
teclados sem fio e mouses.

Em janeiro a agência também pediu a empresas que usam nanopartículas
para começar a fornecer resultados voluntariamente de quaisquer
estudos de saúde e segurança que tivessem realizado. Willis diz que a
EPA irá avaliar a resposta das empresas para determinar se o
atendimento voluntário a essa solicitação é suficiente para essa
temporada de calor nos Estados Unidos.

O Friends of Earth insiste que a obediência a esses relatórios deveria
ser obrigatória, dados os riscos potenciais. O grupo lobista também
diz que a definição do que constitui uma partícula de tamanho nano
deve incluir qualquer coisa com 300 nanômetros ou menos. Porém
Maynard, do Wilson Center, salienta que é o efeito e não o tamanho que
tem importância.

"Tudo se resume à necessidade de mais pesquisas. Nós não podemos andar
às cegas aqui. Precisamos saber o que está acontecendo", insiste
Maynard. "Não há evidências concretas de que nanomateriais em produtos
no mercado irão ser nocivos a humanos ou ao meio ambiente, mas há
evidências suficientes para se afirmar que precisamos reexaminar
isso".
Fonte: © Duetto Editorial. Todos os direitos reservados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quem sou eu

Joinville, Santa Catarina, Brazil
Por Ricardo Toscano, Cirurgião-Dentista graduado pela Unifal, especialista em odontologia do trabalho pela UFSC, mestre em odontologia area de concentraçao em implantodontia cirurgica/protetica pelo Instituto latino Americano de Pesquisa e Ensino Odontologico,reabilitador oral clinico. Responsável técnico pelo Instituto Odontologico Toscano. Notícias,ferramentas e artigos na área de Reabilitação Oral com ênfase na interdisciplinaridade e multidisciplinaridade.