quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Dentistas têm alto índice de doenças do trabalho

Ao lado de outras categorias profissionais, os cirurgiões-dentistas também são vítimas dos DORT (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho). Eles apresentam um índice elevado de doenças ocupacionais provocadas, principalmente, por equipamentos e mobiliários malprojetados, postura incorreta, movimentos repetitivos e excesso de esforço muscular exigido no dia-a-dia da profissão.

Para amenizar e ou eliminar os problemas, o fisioterapeuta Alexandre Crespo Coelho da Silva Pinto, de Florianópolis, elaborou um programa variado de exercícios, aliado a padrões ergonômicos. “Os distúrbios ocupacionais são, geralmente, diagnosticados e tratados tardiamente, dificultando, assim, uma ação terapêutica eficaz como fisioterapia e cirurgia”, diz Alexandre. Segundo ele, os distúrbios ocupacionais aparecem em torno de cinco anos de atividade e são comuns também em acadêmicos de odontologia. “Sem prevenção, os DORTs podem levar o cirurgião-dentista ao abandono precoce de suas funções”, completa.

Denominado de Ginástica Laboral Aplicada à Saúde do Cirurgião-Dentista - Um Estudo de Caso na Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis - SC, o trabalho, título da dissertação de mestrado do fisioterapeuta, se baseou em pesquisas ligadas ao tema.

Uma delas é a tese do doutor Gilsée Ivan Regis Filho. Professor do Departamento de Estomatologia da UFSC, ele desenvolveu e concluiu em 2000 um levantamento com 3.618 dentistas registrados até o final de 1998 no CRO-SC (Conselho Regional de Odontologia de Santa Catarina). Deste total, 771 (24,91%) responderam a um questionário que tinha como objetivo, entre outras coisas, avaliar as manifestações dolorosas passadas ou presentes relacionadas às LERs (Lesões por Esforços Repetitivos). Dos 771 (100%), 437 (56,68%) revelaram sintomas de dor na coluna cervical, ombros, braços, antebraços, mãos e pescoço.

Os fisioterapeutas Alexandre Crespo e Karen Comparin também estudaram, em 1998, 100 dentistas de Florianópolis e concluíram que 75% apresentavam dor. Serafim Barbosa Santos Filho, do departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG e Sandhi Maria Barreto, da Fundação Oswaldo Cruz de Belo Horizonte – Minas Gerais- encontraram, um ano depois, uma prevalência de dor nos membros superiores de 58% dos 358 dentistas pesquisados na rede pública de Belo Horizonte. As queixas se dividiam em 22% no braço; 21% na coluna lombar; 20% no pescoço e 17% no ombro.

Além destes pesquisadores, a mestre em Engenharia de Produção da UFSC, na área de Ergonomia, Cleumara Kosmann, descobriu, em 2000, que 81,51% dos dentistas de Florianópolis sofriam de dor ou desconforto físico gerados pelas tarefas diárias. “Em todos os trabalhos foi destacada a necessidade de realizar-se exercícios no consultório odontológico. Porém, nunca se observou isso na prática”, diz Alexandre.

GINÁSTICA LABORAL

Para implantar a série de exercícios, o fisioterapeuta optou pelo quadro de funcionários da Secretaria Municipal de Saúde que reúne, em Florianópolis, 43 postos de atendimento nos bairros. O primeiro passo foi enviar um questionário, para coleta de dados, aos 73 dentistas lotados na rede pública em 2002. Entre outras perguntas, a pesquisa pretendia abordar informações referentes à profissão, atividades físicas, promoção de qualidade de vida, aspectos quanto à saúde e sintomas relacionados ao trabalho. Dos 73 questionários, 37 foram respondidos, perfazendo um índice de 50,6%. Destes, 25 (67,5%) relataram dor e desconforto corporal.

“Em verdade, os 37 dentistas que responderam ao questionário se queixaram de algum problema osteomuscular relacionado ao trabalho, independente de dor ou não”, disse Alexandre. As estatísticas mostraram que 35% já tinham contraído tendinites; 22% apontaram dores no ombro; 19% dores na região cervical, no braço, antebraço e mão; 16% reclamaram de bursites e 11% de STC (Síndrome do Túnel do Carpo). Trata-se de um termo utilizado para definir uma compressão no nervo mediano ao nível do carpo (punho). De acordo com Alexandre, essas patologias são muito comuns em dentistas em função da natureza de suas tarefas e pelas posturas inadequadas que esses profissionais adotam durante os atendimentos.

Com base nestes resultados, Alexandre Crespo montou o Programa de Ginástica Laboral, objeto de sua dissertação de mestrado defendida no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da UFSC, em dezembro de 2003. A ginástica, voltada às necessidades dos profissionais, foi aplicada em quatro dos 37 dentistas pesquisados e consistiu numa série de 23 exercícios de alongamento, que foram aplicados no próprio consultório odontológico durante a jornada de trabalho. Ao todo, foram 14 sessões de 15 minutos cada uma e divididas em duas vezes por semana. “O trabalho procurou proporcionar aos cirurgiões-dentistas uma melhor prática da profissão: menos esforço físico, maior conforto e segurança”, explicou o fisioterapeuta.

RESULTADOS

Após dois meses de ginástica laboral individualizada, os dentistas reconheceram que o programa contribuiu para minimizar os sintomas de dor e desconforto corporal assim como a fadiga muscular. “A iniciativa serviu para alertar e conscientizar os profissionais dos malefícios causados pela execução de suas tarefas laborais e posturas estáticas. Eles relataram que o Programa de Ginástica Laboral ajudou-os na percepção das tensões musculares e proporcionou benefícios importantes para o dia-a-dia clínico”, atesta Alexandre.

O próximo projeto do fisioterapeuta é disponibilizar a pesquisa à sociedade. Para isto, ele já está trabalhando na idéia da elaboração de um livro, principalmente para servir de consulta aos cirurgiões-dentistas.

Mas, enquanto a proposta ainda está na gaveta, o fisioterapeuta vai levar ao público um pouco do seu conhecimento científico. Ele participa como um dos autores do livro Ginástica Laboral e Saúde do Trabalhador, que tem como organizador e também autor o doutor Roberto Moraes Cruz da UFSC. A publicação foi lançada no Congresso Brasileiro de Ergonomia (ABERGO 2004) que aconteceu entre os dias 29 de agosto e 2 de setembro na cidade de Fortaleza.
Fonte :med center/ Núcleo de Mídia Científica – Universidade Federal de Santa Catarina

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Quem sou eu

Joinville, Santa Catarina, Brazil
Por Ricardo Toscano, Cirurgião-Dentista graduado pela Unifal, especialista em odontologia do trabalho pela UFSC, mestre em odontologia area de concentraçao em implantodontia cirurgica/protetica pelo Instituto latino Americano de Pesquisa e Ensino Odontologico,reabilitador oral clinico. Responsável técnico pelo Instituto Odontologico Toscano. Notícias,ferramentas e artigos na área de Reabilitação Oral com ênfase na interdisciplinaridade e multidisciplinaridade.