segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Doenças do trabalho devidas a riscos biológicos

Doenças do trabalho devidas a riscos biológicos
12/11/2003




Os riscos biológicos que podem ser capitulados como doenças do trabalho,

portanto classificados como acidentes do trabalho, desde que estabelecido o respectivo

nexo causal, incluem infecções agudas e crônicas, parasitoses e reações alérgicas ou

intoxicações provocadas por plantas e animais.

As infecções são causadas por bactérias, vírus, riquetzias, clamídias e fungos.

As parasitoses envolvem protozoários, helmintos e artrópodes.

Muitas das doenças ocupacionais são zoonoses, isto é, tem origem pelo

contato com animais e conseqüentemente trabalhadores agrícolas e aqueles

envolvidos no manejo de aviários, rebanhos e criação em geral podem estar sob

permanente risco se medidas preventivas apropriadas não forem aplicadas. Em geral o

que acontece é que os trabalhadores em industrias urbanas estão mais protegidos

contra os riscos do trabalho que os trabalhadores rurais.

Algumas das doenças infecciosas e parasitárias são transmitidas ao homem

por espécies de artrópodes (mosquitos, carrapatos, pulgas, etc.) que atuam não

somente como vetores de doenças transmissíveis, mas também , como hospedeiros

intermediários.

Um grande número de plantas e animais produzem substâncias que são

irritantes, tóxicas ou alérgicas.

Poeiras advindas dos locais onde ficam plantas e animais carreiam vários

tipos de materiais alergênicos, incluindo pequenos ácaros, pelos, fezes ressequidas em

pó, pólen, serragem, esporos de fungos e outros sensibilizantes.

Riscos biológicos ainda incluem picadas de animais peçonhentos, mordidas

por ataque de animais domésticos e selvagens (caso da raiva).

Mergulhadores e pescadores podem ocasionalmente defrontar-se com

tubarões, sáurios e outros peixes perigosos, serpentes marinhas e outros animais

aquáticos venenosos.

Em algumas regiões, riscos de exposição ocupacional à picadas de cobras ou

insetos (como é o caso do potó) são muito freqüentes.

Trabalhos ao relento sob a ação permanente de sol, frio, chuva e vento pode

propiciar a quebra da resistência orgânica e favorecer o aparecimento de infecções. Do

mesmo modo as pessoas que lidam com plantas e animais e seus produtos ou na

produção de alimentos e seu processamento, tem mais probabilidade de se exporem

aos riscos biológicos.

Pessoal de laboratórios, hospitais e serviços sanitários, comumente estão

sujeitos a esse tipo de risco.

Trabalhos em novas regiões ou localidades insalubres por pessoas não

expostas previamente ou susceptíveis aumenta o risco de contrair doenças endêmicas.

Dentre os riscos biológicos podemos destacar:

-- Viroses: são várias as doenças produzidas por vírus que podem ser

caracterizadas como ocupacionais. Elas abrangem viroses respiratórias, viroses

eruptivas, enteroviroses e arboviroses.

Esse tipo de infecção pode ser de transmissão direta, de pessoa para pessoa

(rubéola, gripe) ou por um vetor (o mosquito na febre amarela silvestre) ou pelo

manuseio de animais infectados.

As infecções adquiridas em laboratórios de patologia podem ser resultantes do

trabalho com o vírus, de pequenos acidentes ou proveniente de animais em

experimentos (na observação ou na autopsia), de aerossóis ou da contaminação dos

materiais e utensílios usados (tubos, pipetas, placas etc.). O mesmo pode ocorrer no

trabalho de saúde pública. A infecção por vírus pode acontecer simultaneamente em

pacientes e no pessoal que trabalha no hospital. A temida e indesejável infecção

hospitalar.

Dentre as viroses mais comumente ligadas ao trabalho temos:

- a Raiva, que se constitui num risco para veterinários, tratadores de

animais, entregadores de compras, carteiros, exploradores de cavernas e todos

aqueles que tenham contato com canídeos e felinos não vacinados, morcegos e outros

mamíferos que mordem. É uma doença a vírus constituída por encefalite aguda

geralmente fatal, à qual são susceptíveis a maioria dos mamíferos.

O período de incubação é em geral de 1 a 3 meses, mas pode variar muito

dependendo da extensão da laceração, inervação da região atingida, proteção da roupa

no local da mordida e outros fatores.

Os primeiros sintomas são ansiedade, dor de cabeça, febre, mal-estar e

perturbações sensoriais freqüentemente relacionadas com a mordedura (ou lambida da

pele ferida) por animal raivoso. A doença evolui, com manifestações de paresia ou

paralisia; o espasmo dos músculos da deglutição leva o paciente a evitar a ingestão de

líquidos, inclusive água (hidrofobia). Ocorre também aerofobia. Seguem-se delírio e

convulsões. A morte resulta da paralisia dos músculos respiratórios, geralmente de 2 a

6 dias . A prevenção da raiva em humanos após mordedura centraliza-se na aplicação

imediata de duas medidas básicas: remoção do vírus por limpeza imediata do

ferimento e sua desinfecção, emprego de imunoglobulina humana seguindo-se a

vacinação específica. Captura do animal para observação. Medida profilática de valor é

a vacinação preventiva de cães e gatos e evitar contato com animais desconhecidos.



-Doença da arranhadura do gato, estão sujeitos os que trabalham com este

animal e seu causador é um tipo de clamídia que tem acesso ao homem através de

uma unhada ou por ferimentos de objetos pontudos ou espinhos contaminados.

Forma-se no local uma papula, que pode progredir para uma erupção vesicular.

desenvolve-se posteriormente uma linfadenite regional seguida de febre e mal-estar.

Em geral esses sintomas tendem a desaparecer se seqüelas, mas pode ser confundida

com doença neoplásica ou granulomatosa. A prevenção consiste em trabalhar com

esses animais devidamente protegido.



- Nódulos dos ordenhadores ou pseudo varíola, esse é um risco para

fazendeiros, veterinários e todos os trabalhadores que tenham contato com tetas e

úberes de vacas infectados, com mastite. Se caracteriza por múltiplos nódulos nas

mãos face e pescoço. A prevenção consiste em tratar a mastite das vacas e usar luvas

, sabão água e desinfetantes antes e depois da ordenha.



- Doença de Newcastle, que pode acometer os que trabalham em aviários e

tratadores de pássaros. É produzida pelo Myxovirus multiforme que tem infeta o

homem através do aparelho respiratório provocando lacrimejamento, conjuntivite e

edema das pálpebras, febre e manifestações respiratórias. A prevenção consiste no

manuseio adequado de pássaros infetados.



- Hepatites virais (A-B-C-D) estão particularmente vulneráveis os que

trabalham em hospitais e em postos de atendimento do público em geral, dentistas,

pessoal de saneamento, lixeiros. Início geralmente súbito, com febre, anorexia,

náuseas, dores abdominais e icterícia. Apresenta grande variedade clínica, desde

formas benignas até as graves e mortais. Ocorre no mundo inteiro e seu reservatório é

o próprio homem. Os surtos são mais freqüentes em instituições como industrias,

quartéis e escolas. A transmissão se faz de pessoa a pessoa. As medidas de prevenção

se baseiam principalmente na educação quanto as medidas de saneamento e higiene

pessoal; evitar aglomerações e o uso de descartáveis. A vacinação deve ser obrigatória

para todos engajados em serviços de saúde. ou que façam atendimento público.

-Riquetsioses e clamídias, se caracterizam por febre e erupção na pele e

são transmitidas por seus reservatórios os artrópodes.



-Febre maculosa (febre botonosa, tifo do carrapato) transmitida pela mordida

do carrapato que pode atingir mateiros, lenhadores, carvoeiros, vaqueiros, fazendeiros

etc. Início súbito, com febre, cefaléia, calafrios e congestão das conjuntivas. No 3º dia.

surge nas extremidades exantema maculopapular que rapidamente atinge as palmas

da mãos, plantas dos pés e quase toda a pele do corpo. Petéquias e hemorragias são

comuns. É alta a mortalidade. A infecção mantém-se na natureza pela passagem

transovariana e transestadial nos carrapatos. O cão, o gambá e o cavalo são os que

mais contribuem para a manutenção do ciclo da doença.



-Febre Q , o maior risco está entre vaqueiros, ordenhadores, trabalhadores

em m atadouros, frigoríficos, tosquiadores.



-Ornitoses (psitacose), estão sob risco os que lidam com pássaros, os

taxidermistas, os trabalhadores de zoológicos e casas de vendas de aves. O vírus está

presente nas secreções nasais, tecidos e penas de pássaros infectados, principalmente

pombos, papagaios e aves domesticas. a maioria das vítimas se queixam de dor de

cabeça, febre e com uma característica de o pulso ser lento. aparece insônia, letargia,

fotofobia, náuseas, vômitos e diarréia. Fígado aumentado e pneumonia. Medida

importante é o controle da venda de pássaros.



- Doenças bacterianas: as principais doenças bacterianas de origem

ocupacional são em geral decorrentes da negligência nos cuidados com pequenos

ferimentos , escoriações na pele. Essas infecções são em sua maioria causadas por

estafilococos e estreptococos e podem ser evitadas com medidas de higiene e cuidados

adequados. Entretanto existem aquelas mais graves e perigosas e entre elas

destacamos:



- Tétano, que se constitui num risco potencial para todos os trabalhadores

principalmente aqueles sujeitos a pequenos ferimentos penetrantes e os que lidam

com animais. Também se constitui em risco para bombeiros, militares, policiais e todos

aqueles expostos ao risco de lesões traumáticas na vida diária. Doença aguda devido à

ação sobre o sistema nervoso central da toxina do bacilo tetânico em desenvolvimento

anaeróbio em um ferimento, em geral perfurante (também queimaduras). Se

caracteriza por contraturas musculares dolorosas iniciando-se pelos masseteres e

músculos do pescoço dando o trisma e a rigidez da nuca que lhe são característicos

estendendo-se a seguir aos do tronco que se acompanha das contraturas. A letalidade

pode chegar a 70%. Os animais herbívoros são seus reservatórios em especial o

cavalo, em cujo intestino o germe vive como hóspede normal, inócuo. A vacinação

geral de todos os trabalhadores é a grande medida para evitar essa perigosa infecção e

confere sólida proteção.



-Antraz, é um risco para quem lida com pelos e peles de animais. No local da

entrada do bacilo inicialmente forma-se uma vesícula que progride para uma escara

escura . A doença pode espalhar-se e dar uma septicemia. A prevenção baseia-se em

medidas de higiene e no tratamento adequado de peles e pelos de animais que vão ser

industrializados.



-Brucelose, essa doença está ligada a todos aqueles que lidam com carnes

(de vaca, porco e cabra) , leite e derivados. Sua característica é a febre intermitente

que tende a cronicidade com perda de peso e fraqueza acompanhada por

manifestações esplênicas e renais e comprometimento das juntas. As medidas

preventivas baseiam-se no controle , por vacinação, nos animais.



-Leptospirose também chamada de Doença de Weil. As ocupações sob risco

inclui pessoal de fazendas, cortadores de cana, plantadores de arroz criadores de

pequenos animais, feirantes , trabalhadores em esgotos, mineiros, lixeiros, feirantes,

peixeiros, mineiros, magarefes, criadores, pessoal militar etc. São seus hospedeiros

intermediárias ,os ratos, cães, animais selvagens. Caracteriza-se por febre, calafrios,

intenso mal-estar, vômitos, mialgias, conjuntivite e eventualmente síndrome

meníngea; as vezes icterícia, insuficiência renal, hemorragias. O gado bovino, cães e

porcos são seus reservatórios. Também os ratos e outros roedores e animais

silvestres, assim como cobras e rãs. Os surtos ocorrem em pessoas que entram em

águas contaminadas com urina de animais domésticos ou selvagens. Medidas

preventivas incluem proteção dos trabalhadores com EPI, identificação dos cursos de

água contaminados; combate aos roedores nas residências. Queima da palha dos

canaviais antes do corte.



-Peste, estão sob risco os pastores, vaqueiros, caçadores, geólogos. As

pulgas são os seus vetores e os roedores silvestres os seus reservatórios e com

menos intensidade os coelhos. Caracteriza-se por febre elevada, cefaléia, hipotensão

arterial, confusão mental, dor intensa na região inguinal, axila ou pescoço, conforme a

localização do bubão. Apresenta diversas formas clínicas: ganglionar ou bubônica,

pneumônica, septicêmica e ambulatória. As medidas preventivas incluem a vacinação.

Medidas de antiratização e desratização, combate as pulgas. Educação sanitária.



-Tuberculose , é geralmente adquirida no ambiente familiar. No trabalho o

pessoal dos serviços de saúde são os mais sujeitos mas é preciso haver um contato

freqüente e prolongado com casos ativos. É uma doença cuja mortalidade está

recrudescendo e já preocupa as autoridades sanitárias de diversos países entre eles o

Brasil. Os exames de laboratório são fundamentais para se estabelecer o diagnóstico.



-Intoxicação alimentar, causadas principalmente pelas bactérias do grupo

das salmonelas, clostridium e estafilococos que se desenvolvem na manipulação dos

alimentos em cozinhas industriais e cafeterias em fabricas. Tem início e evolução

rápidos, geralmente em manifestações entéricas ligadas à ingestão de alimentos ou

água entre pessoas que os usaram na mesma ocasião. As medidas profiláticas se

baseiam na refrigeração adequada de alimentos, manuseio higiênico de produtos da

alimentação; exclusão temporária das pessoas com qualquer tipo de infecção

principalmente as piogênicas e uso de mascaras , luvas e roupas adequadas no

preparo de alimentos.

Micoses e fungos, tanto podem ser manifestações sistêmicas, superficiais

ou produzindo hipersensibilidade. Entre elas temos a candidíase ou monilíase, a

aspergilose, histoplasmose, dermatofitose (pé de atleta), esporotricose, pulmão do

fazendeiro, bagaçose, suberose, etc.



Doenças parasitárias, tem significado ocupacional aquelas causadas por:



-protozoários como a malária, amebiáse, leishmaniose, tripanosomíase.

-helmintos como a esquistossomose, ancilostomose, ascaridíase.

-artrópodes como os ácaros, carrapatos, bicho do pé, etc.



Picadas de cobras venenosas, escorpião, lacraia, centopéia e aranhas

venenosas.



Nesses casos as medidas de primeiros socorros são soberanas. Se você não

conhece cobras, leve se possível a cobra causadora do acidente para identificação (viva

ou morta).

Atenção para as seguintes características de identificação:



Venenosa Não venenosa

Cabeça.......... Triangular..............................Arredondada

Olhos............ Pequenos...............................Grandes

Fosseta

lacrimal..........Tem.......................................Não tem

Escamas........ Desenhos irregulares..............Desenhos simétricos

Cauda............ Curta afinando abruptamente Longa e afinando gradativamente



Dentes ........ Duas presas ou maxilar Dentes pequenos e mais

superior bem maiores ou menos iguais

que os demais dentes ..........

Picada.......... Com uma ou duas marcas Orifícios pequenos e

mais profundas................... mais ou menos iguais



A cobra coral constitui uma exceção: a cabeça não é triangular; a cabeça e a

cauda são continuação do corpo.



Na ausência ou falta de médico e se identificar a cobra como venenosa,

aplique um dos soros específicos, seguindo rigorosamente suas especificações:

Anticrotálico - para cascavel

Antibotrópico - para jararaca, urutu, jararacuçu

Antilaquésico - para surucucu “pico de jaca

Antielapídico - para coral.

No caso de picadas por escorpião aplicar o soro específico, dentro da primeira

hora da picada

Nos demais casos o tratamento é local.



Fonte :

SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENGENHARIA DE SEGURANÇA

SOBES

Dr. Daphnis Ferreira Souto

Médico do Trabalho

Membro do Conselho Técnico Científico da ABMT.

Associação Brasileira de Medicina do Trabalho

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Quem sou eu

Joinville, Santa Catarina, Brazil
Por Ricardo Toscano, Cirurgião-Dentista graduado pela Unifal, especialista em odontologia do trabalho pela UFSC, mestre em odontologia area de concentraçao em implantodontia cirurgica/protetica pelo Instituto latino Americano de Pesquisa e Ensino Odontologico,reabilitador oral clinico. Responsável técnico pelo Instituto Odontologico Toscano. Notícias,ferramentas e artigos na área de Reabilitação Oral com ênfase na interdisciplinaridade e multidisciplinaridade.