terça-feira, 25 de novembro de 2008

Equipamentos de proteção individual - EPI em odontologia

Equipamentos de proteção individual - EPI

Márcia Rosental da Costa Carmo
mrosental@int.efoa.br




Biossegurança em odontologia é definida como sendo um conjunto de medidas preventivas que envolvem a desinfecção do ambiente, a esterilização do instrumental e o uso de equipamentos de proteção individual (EPI), pelo profissional e equipe (GUANDALINI, 1997).

Os profissionais odontólogos são suscetíveis à inúmeras doenças e o mecanismo mais efetivo para a proteção é o oferecido pelos equipamentos de proteção pessoal, constituídos pelo gorro, óculos de proteção, máscara, avental ou roupa própria do consultório, luvas, sapatilhas ou sapato de uso exclusivo no consultório, não só para o profissional como também para o pessoal auxiliar.

Para que o controle de infecções seja efetivo, toda a equipe deve estar integrada, devidamente informada e paramentada, para que a cadeia asséptica não seja interrompida em nenhum momento.


Fig. 1 - Paramentação para procedimentos semi-críticos
Fig. 2 - Paramentação para procedimentos críticos



É necessário esclarecer os profissionais que não acreditam na necessidade de maiores cuidados com a própria saúde, que a não utilização dos equipamentos de proteção individual, favorecem a disseminação de infecções entre seus próprios clientes, sua equipe e familiares. Com o advento da AIDS e a divulgação por parte dos meios de comunicação dos riscos a que estão submetidos durante os tratamentos dentários, a população passou a exigir mais e principalmente, a valorizar aqueles profissionais que investem em biossegurança, conforme mostra o trabalho de GERBERT, MAGUIRE & SPITZER (1989). Os pacientes relatam apoio entusiasmado acerca da paramentação utilizada pelo cirurgião dentista, sentindo-se mais protegidos para o atendimento.




Por que utilizar os equipamentos de proteção individual?

As canetas de alta rotação e aparelhos de profilaxia lançam aerossóis no ambiente que além de serem inspirados, depositam-se nas superfícies próximas, incluindo-se desta forma as roupas, rosto e cabelos do cirurgião dentista e auxiliar. Este fato foi verificado por KING, MESARICIK & KING (1986) quando observaram um aumento de 20 a 40 colônias bacterianas no rosto do profissional, após 20 minutos de trabalho, sendo que estas mesmas bactérias foram também encontradas no rosto do paciente.

Desta forma, é importante o uso do gorro para proteção dos cabelos pela contaminação dos aerossóis, favorecendo também a proteção da boca do paciente da microflora dos cabelos do profissional e equipe. Tal afirmação encontra respaldo no trabalho de MAGRO FILHO, MELO & MARTIN (1991), mas para cumprir a finalidade a que se destina, o gorro dever ser descartável e quando apresenta-se sujo com material orgânico, deve ser substituído, não precisando necessariamente ser trocado para cada cliente atendido, nos casos de atendimentos semi-críticos. É importante que o gorro cubra todo o cabelo do profissional.


Fig. 3 - Gorro



O baixo índice de auxiliares que utilizam gorro (36,6%), segundo pesquisa de COSTA CARMO(1999) possibilita que todo aerossol resultante do uso do alta rotação e aparelhos de profilaxia não encontrem barreira de proteção, indo se depositar no cabelo e couro cabeludo desses profissionais.

Segundo GUANDALINI (1997) o uso dos óculos de proteção também é muito importante, principalmente nas manobras em que há produção de aerossóis, visto que a conjuntiva do olho apresenta menos barreira de proteção que a pele.

A grande maioria dos auxiliares é treinada pelos próprios odontólogos sendo portanto, destes, toda a responsabilidade sobre a orientação e zelo com a paramentação a ser utilizada, de modo a resguardar a saúde desses profissionais.

Para LIMA et alii (1998) o cirurgião dentista deve estabelecer rotina para a realização dos procedimentos de biossegurança, sendo que essas rotinas são válidas para toda a equipe, e o cirurgião dentista é o responsável pela sua execução no consultório.


A odontologia é uma das profissões em que a distância entre paciente e profissional é reduzida, portanto, o uso de máscara descartável com paredes duplas ou triplas é fundamental para a proteção contra a inalação ou ingestão de aerossóis pelos profissionais e na transmissão de microorganismos para o paciente. As máscaras confeccionadas em tecido ou material sintético fino, podem filtrar apenas 20,0% do aerossol (CAMPOS et alii 1989).


Fig. 4 - Máscara com camada dupla ou tripla



Durante os procedimentos operatórios dentais, microorganismos da cavidade oral e do trato respiratório podem ser desalojados, possibilitando desta forma transmissão de doenças tais como a tuberculose, pneumonia, gripe, infecções de pele e oftalmológicas (LU & ZAMBITO, 1981).

Portanto, sempre que se apresentarem úmidas, as máscaras devem ser substituídas pois tornam-se permeáveis, tornando possível a contaminação. Desta forma, segundo GUANDALINI (1997) a máscara deve ser substituída pelo profissional e equipe auxiliar sempre que apresentar sujeira visível ou estiver úmida, não necessitando pois, ser substituída para cada cliente atendido (orientação válida para atendimentos semi-críticos).


Os óculos e máscara devem se adaptar de maneira confortável ao rosto do profissional, portanto, é importante que vários modelos sejam experimentados, de modo a verificar o mais adequado para cada tipo de rosto.


Fig. 5 - Diferentes modelos de óculos




O possível mecanismo que explica a alta incidência de hepatite B na odontologia, foi descrito por ALLEN & ORGAN (1982). Os traumas que rotineiramente acontecem envolvendo as mãos dos profissionais produzem rupturas na integridade da epiderme, que não são notados numa inspeção visual. Além disso, o sangue dos pacientes podem permanecer oculto debaixo das unhas dos profissionais por cinco ou mais dias, depois do atendimento. Com o trauma, o sangue aí instalado acaba sendo pressionado para o interior do corpo do profissional. A utilização de luvas de forma habitual, portanto, é recomendada como método de proteção à saúde do profissional e dos pacientes.

As luvas devem ser usadas em todos os procedimentos, não existindo motivo ou manobra clínica que possa ser realizada sem a proteção oferecida por essa barreira, pois numerosos trabalhos demonstram que a saliva do paciente é disseminada por todas as partes do consultório, produzindo focos de infecção no telefone, na gaveta, maçaneta da porta, no livro de horário e em todas as demais partes tocadas pelo profissional, durante ou após o atendimento. Não basta, no entanto, conforme salienta FERREIRA (1995) apenas usar luvas para impedir a disseminação de infecções.

O profissional deve se habituar a lavar as mãos enluvadas ou a calçar uma sobre luva, para realização de tarefas paralelas.




As luvas diminuem os riscos de contaminação, por isso, devem ser usadas sempre que houver contato com instrumentos/equipamentos ou com superfícies possivelmente contaminadas por sangue e/ou secreções. As luvas devem cobrir os punhos do jaleco, que devem ter mangas compridas, de acordo com COTTONE, (1991).


Fig. 7 - Luvas colocadas sobre os punhos do avental cirúrgico



Ao final de um atendimento, as luvas devem ser retiradas, as mãos lavadas com um anti-séptico detergente e um novo par de luvas deve ser colocado, para o atendimento do próximo cliente. Usar a mesma luva para atender a vários pacientes não é recomendado, pois muitas vezes as luvas sofrem pequenos danos, como perfurações, o que tornaria esta barreira deficiente ( COTTONE, 1991, GUANDALINI, 1997).

Uma avaliação física e microbiológica da reutilização de luvas não estéreis, MARTIN et alii (1988) comprovaram que alguns tipos de sabões em barra afetam algumas luvas, podendo produzir perfurações e aumento na viscosidade. O clorexidine se mostrou mais compatível para ser utilizado na lavagem das luvas mas não é recomenadável mais de 5 a 10 lavagens.

Portanto, utilizar para lavagem das mãos apenas sabões líquidos e toalhas descartáveis.

O uso de porta toalha e toalha em tecido são fontes potenciais de contaminação.

GUANDALINI (1997) considera o reprocessamento das luvas anti-econômico, além de apresentar maior risco de contaminação para o profissional e equipe auxiliar. Observa que uma caixa de luvas de procedimentos ambidestros pode ter até 12% delas com perfurações de fábrica e quando reprocessadas, este índice pode chegar a 51%.

SCHEIDT (1993) concorda com tal afirmação e no teste de diferentes marcas de luvas de látex, entre elas a marca D Exam (Mucambo) e Micro Touch (Johnson e Johnson), verificou após três horas de trabalho a existência de micro perfurações, que apareceram principalmente na mão operadora.

Diante da inviabilidade de se trocar de luva entre cada atendimento, estudo de GOBETTI, GERMINARO & SHIPMAN (1986) mostra que ao se lavar a mão enluvada, consegue-se remover quantias significantes de bactérias.

Conforme trabalho de KOTILAINEN et alii (1989), observa-se extrema variedade na qualidade das luvas de vinil e látex. Verificou-se que em teste de penetração do vírus da herpes simples, as luvas de vinil e de látex falharam. Os dados são alarmantes pois algumas marcas de luvas de vinil apresentaram falha em 28% das vezes em que foram utilizadas. Recomenda-se, portanto, aos profissionais, que usem luvas para todos os procedimentos como forma de prevenção das doenças, mas que também tenham a preocupação em adquirir luvas de boa qualidade.




Lembre-se que:


Por apresentarem menos porosidades, reentrâncias e pelos que a pele, as luvas possibilitam uma melhor desinfecção, além de conferir natural proteção à contaminação, devem cobrir os punhos do avental que deve ter mangas compridas e ser mantido fechado; a máscara deve apresentar paredes duplas ou triplas e se ajustar confortavelmente aos óculos de proteção; utilizar propés ou reservar um par de sapatos para uso exclusivo no consultório (GUANDALINI, 1997).



Nos atendimentos críticos, todos os equipamentos de proteção individual devem estar autoclavados ou caso sejam descartáveis, devem ser estéreis e serem de uso único para cada cliente atendido.

Mesmo nos atendimentos semi-críticos, é desejável que o cliente atendido use óculos de proteção e gorro.




Cuidados complementares:


As roupas do profissional devem ser lavadas em separado, e antes deste procedimento, devem ser desinfetadas em solução de hipoclorito de sódio a 1%, por 30 minutos, na diluição de 5/1.

Os profissionais que possuem o hábito de circular em ambientes públicos com as mesmas roupas usadas durante os atendimentos clínicos, funcionam como verdadeiros transportadores de microorganismos, colocando em risco a saúde de sua própria família.

Deve-se fazer uso de luvas de trabalho mais grossas, de borracha, para a limpeza e desinfecção do consultório, conforme observou COTTONE, SVIRSKY & FRIEDMAN in GONÇALVES (1997).


Fig. 8 - Luvas de borracha devem ser usadas na limpeza e desinfecção do consultório




Estudo de VIGNARAJAH (1991) desenvolvido durante 6 meses, usando um controle de infecção cruzada simplificada, observou que entre cada paciente os profissionais levam de 20-25 segundos para lavar as mãos com clorexidina; a cada hora a hora e meia, se utilizava um novo par de luva, e as superfícies de trabalho eram desinfetadas com clorexidina a 1% ou glutaraldeído a 2%; a cada hora a hora e meia, os instrumentais tinham de ser autoclavados, para o atendimento dos pacientes restantes. Em média, o atendimento de cada paciente foi de 8-9 minutos e o custo dos materiais por paciente foi de 50 centavos de dólar.

Ao final da experiência os procedimentos mencionados para o controle de infecção cruzada, foram julgados adequados para o uso em clínicas dentárias públicas. Isto demonstra que são necessários orientação e boa vontade, para que, a odontologia atinja níveis mais qualificados nos atendimentos.

Fonte : EFOA.br

Um comentário:

  1. OI, MEU NOME É MÁRIO, SOU ESTUDANTE DE ODONTOLOGIA E VOU FAZER UMA APRESENTAÇÃO SOBRE EPI, GOSTEI DESSE MATERIAL QUE LI, OBRIGADO!!!

    ResponderExcluir

Arquivo do blog

Quem sou eu

Joinville, Santa Catarina, Brazil
Por Ricardo Toscano, Cirurgião-Dentista graduado pela Unifal, especialista em odontologia do trabalho pela UFSC, mestre em odontologia area de concentraçao em implantodontia cirurgica/protetica pelo Instituto latino Americano de Pesquisa e Ensino Odontologico,reabilitador oral clinico. Responsável técnico pelo Instituto Odontologico Toscano. Notícias,ferramentas e artigos na área de Reabilitação Oral com ênfase na interdisciplinaridade e multidisciplinaridade.