quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Tensão leva a doenças ocupacionais

Tensão leva a doenças ocupacionais


O ambiente de trabalho pode adoecer o trabalhador de diversas maneiras, inclusive, psicologicamente. As tensões oriundas da pressão no trabalho e a pré-disposição genética são a fórmula das doenças psíquicas ocupacionais, normalmente confundidas com o estresse - que é a internalização de situações externas. A psicóloga clínica e ocupacional Roberta Rezende explica que o estresse é desencadeado por situações do cotidiano, como a pressão no trabalho e situações extremas, e também pode ser responsável pelo desenvolvimento de doenças ocupacionais. A doença psíquica pode vir à tona numa situação de estresse, mas os pacientes já têm uma pré-disposição (origem genética) para o problema.

Segundo Roberta, esse mal não é tão freqüente na sociedade: em 12 anos de profissão, ela atendeu apenas três casos. A identificação da doença psíquica é difícil, pois os sintomas variam caso a caso: algumas pessoas ficam apáticas e outras, agitadas demais. No geral, os sintomas básicos são estresse, estafa, alta irritabilidade ou crises de choro, falta de paciência e indisposição para o trabalho. 'A pessoa começa a somatizar as tensões para o corpo e começa a desencadear doenças físicas, as mais comuns são dores na coluna e na cabeça e o aumento de pressão', acrescenta.Pressão - Paula Figueiredo (nome fictício para preservar a entrevistada), de 31 anos, há dois anos trabalha como chefe do setor de Recursos Humanos de uma empresa. Ela conta que possui um transtorno de personalidade e, com apenas um mês e meio no emprego, acabou desenvolvendo uma doença psíquica por conta da intensa pressão promovida por um chefe. 'Ele faz jogos psicólogicos com os funcionários, cria situações constrangedoras. A situação foi se acumulando até que eu surtei. Tive uma crise de choro e quis entregar o lugar', lembra.

Em vez de sair do emprego, ela decidiu buscar ajuda. Paula percebeu que começava a sentir a pressão arterial baixa, pontadas no estômago, nervosismo e apreensão quando se dirigia para falar com o chefe. 'É frustrante para o profissional não conseguir cumprir o seu papel na empresa', justifica. Ela começou a tomar remédio para controlar a ansiedade e a fazer psicoterapia para contornar o problema. 'Eu nunca tinha passado isso em 10 anos de profissão', afirma.

Porém, temendo ser demitida, ela continua até hoje fazendo o tratamento em segredo, sem se afastar do trabalho. 'A cultura da empresa privada é complicada. Se eu disse que estou em crise vão me demitir. A empresa não quer saber se o profissional adoeceu lá dentro, ela quer saber do profissional produtivo', relata ela, que precisa manter o emprego para sustentar a família. 'É uma angústia grande, porque as pessoas não acreditam no que não podem ver', conclui.

A psicóloga ressalta que a doença psíquica é muito séria e, normalmente, requer que o trabalhador seja afastado para tratamento multiprofissional, com acompanhamento médico, psicológico e psiquiátrico. A especialista observa que o principal entrave para o tratamento dos trabalhadores doentes ainda é a falta de compreensão dos empregadores, que dificultam o afastamento, apesar desse custo ser bancado pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). Ela não descarta a possibilidade do tratamento 'se arrastar por anos', dependendo da pessoa.

O que atentar

Conheça os sintomas básicos da doença psíquica ocupacional:

- Estresse

- Estafa

- Alta irritabilidade ou crises de choro

- Falta de paciência para realizar tarefas

- Indisposição ou apatia para o trabalho

Mulheres são as maiores vítimas

Cerca de 10 casos de doenças psíquicas adquiridas no trabalho são denunciados por mês na Delegacia Regional do Trabalho do Pará (DRT). O médico do trabalho Hilmar Tadeu Ferreira, chefe substituto do Setor de Segurança e Saúde do Trabalhador da DRT, afirma que a incidência de doenças psíquicas é maior entre as mulheres, sobretudo as casadas e mães de família, que todos os dias enfrentam a dupla jornada de trabalho (em casa e no emprego). Segundo ele, o sexo feminino representa cerca de 60% dos trabalhadores com distúrbios emocionais.

Ele relata que as síndromes depressivas são muito comuns no mundo atual, sendo ocasionados por um conjunto de fatores, como a violência urbana, o assédio moral no trabalho, a excessiva jornada de trabalho e a exigência de cumprimento de metas no emprego - o que leva o trabalhador a sofrer constantes pressões de seus superiores. 'As doenças de fundo emocional, nesses casos, são uma reação do organismo ao ritmo de trabalho agitado', esclarece.

O médico destaca a necessidade de tratamento das doenças psíquicas o mais rápido possível, a fim de obter a cura e prevenir que acabem por instalar uma doença definitiva, com destaque aos males cardio-circulatórios que podem levar a um derrame cerebral ou infarto. Uma das faces mais graves da falta de saúde no trabalho, hoje em dia, é a Lesão por Esforço Repetitivo (LER) ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), que, apesar de serem doenças físicas, trazem consigo uma sobrecarga de tensões emocionais que exigem o acompanhamento psicológico do paciente.

Todas as denúncias recebidas no plantão daquele setor são apuradas pela equipe de fiscalização, sendo que, no interior do Estado, esse trabalho depende das fiscalizações planejadas devido à carência de médicos do trabalho (existem apenas um em Santarém e seis em Belém). Na visita às empresas, os fiscais ouvem o médico da empresa, que é responsável pelo Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional, cabendo a ele constatar alteração física ou emocional do trabalhador e encaminhar para tratamento ou, se necessário, para o afastamento - nesse caso, o trabalhador entra de licença de saúde e passa a receber o benefício do INSS. 'A empresa não pode se recusar a liberar o empregado (para tratamento médico) sob pena de ser notificado e pagar multa que varia de R$ 2 mil a R$ 4 mil', informa.

Fonte: Por Enize Vidigal - O LiberalA-A+

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Quem sou eu

Joinville, Santa Catarina, Brazil
Por Ricardo Toscano, Cirurgião-Dentista graduado pela Unifal, especialista em odontologia do trabalho pela UFSC, mestre em odontologia area de concentraçao em implantodontia cirurgica/protetica pelo Instituto latino Americano de Pesquisa e Ensino Odontologico,reabilitador oral clinico. Responsável técnico pelo Instituto Odontologico Toscano. Notícias,ferramentas e artigos na área de Reabilitação Oral com ênfase na interdisciplinaridade e multidisciplinaridade.